terça-feira, 13 de maio de 2008

Ele Bebe Toró

Um teleférico de gotinhas empapa o fio e ruma pro telhado contíguo.
Todas as tardes minha lage vira lagoa
Aí começa explosão de bomba no infinito,
E vem clarão, e vem trovão partido, cismado numa quebradeira de ar
Onde já se ouviu?
Vieram a nascer só pra som
Foi daí que veio o som:
desse estrondo rasgado, ameaçando deixar o firmamento em dois
Depois do susto, tudo o que é animado, até o parado, dito sem vida, mineral, o elemento que for trata de pôr-se em colaboração:
Vento sonoro nas lascas de frincha de casa,
Nos conjuminados de concreto espaçados um dedo de assobio só algazarrar em tarde ruidosa.
Farfalha baderneiro o pé de amora e de tanto balanço, cheio de vestígio, ameaça desplantar, correr pra outro lugar.
Tinha folhagem, por trás da guarimã, que corria
Coloquei atenção e vi: elas caminham.
Pensei fossem grudadas na terra. Engano. Tramóia.
Com evento relampejado e perigoso
põem-se num deslocado alvoroço
Rodam com chocalhos,
Riem,
Rebolam verdes penteados
Muitas aproveitam a liberdade,
O fechar de janelas,
O escondido dos humanos podadores e namoram.
É um fornicalho
Lambuzam-se embebidas n`água
Soltam folhas, gemidos,
quebram galhos,
amontoam-se, misturam espécies.
Mas não acasalam, pura farra, sem vergonhice
É tanta dança; talvez pra compensar outros dias de fixidez.
Sei que as gotas estouram,
Podiam escorrer viscosas, mas não,
Cantam, colaboram com a tempestade sinfônica
Estalidos miúdos,
Somados,
Multiplicados,
Virando multidão,
A gota torna grossa a chuva,
Música em telha de barro,
Aposta corrida e salta da lage e
junta de outras,
coladas as gotas,
velozes,
audíveis de longe,
já são enchurrada.
Corre, corre, empurra, empurra,
faz piscina e rodela a ciscar no bueiro
Som, ação, colaboração,
Participo da festa,
Pisco os olhos pra melhor escutar,
Cuspo na lagoa,
Uma gota,
Meu
Estrondo,
agora SOU TEMPESTADE!

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