terça-feira, 13 de maio de 2008

dois poemas

Há mais pólen no vento.
Por causa dele e da névoa vinda de outro mundo, junto do sol que evita ir-se embora,
os sons ficam compridos, deixam o murmúrio das crianças, mais as cabeleiras secas de árvores e algum assovio no passado.
Por isso meus cílios se confundem com o gosto metálico da beleza.

2007.


Contra os muros esmolo alguma sombra
Do piche: bolhas.
E até lhe ver,
Sob as malhas de energia,
pisando paredes mortas do terreno de ninguém,
entre restos de erosão,
queridos animaizinhos podres em seus sacos estufados
Sorriso e olho cego do brinquedo abandonado
Garimpo da infância, o campinho, o morrão...
Ainda pulo dois rios antes de você
Luz ardida em meus cabelos
O sal governa a pele.
Água mole no esgoto Aricanduva
- É possível que aquilo seja o cheiro; cor e forma.
Sem desvio, aperto o olho, trago o ar e tosse:
Secreta iguaria verde, amarela e sangue.
Um sinal na avenida,
acenas do outro lado,
fustigada pela seca revolve o calor vômico.
Toneladas de caminhões interferem nossa mira,
Pó, areia, ululantes gases no surdo mundo.
Sua boca e tantos músculos retorcem o que seria: "ei".
Desprovido dos sentidos, rasgo o lábio no que seria: riso.
E só agora, num fleche, raios reflexos da escama dum bicho vivo no caldo.
Um salto.
Chute,
Gesto
um peixe.
24/02/2007.

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